A chuva insiste em cair, e eu, embebida em puro ócio, não paro de pensar no quanto as pessoas me fazem mal. Poderia escrever uma mini história sobre uma menina fraca, sempre doente, cansada e triste. Cada vez mais fraca, abatida e preocupada com a opinião de seus superiores, ela consultou vários especialistas do campo prático ao espiritual - tomou muitos remédios, fez passes e simpatias, participou de rituais, ouviu conselhos, mas nada a curou. Um belo dia a pessoa mais improvável descobriu que quem a enfraquecia eram as pessoas. Os outros para ela eram como um balde de criptonita - quanto mais gente, menos energia. Ela então decidiu afastar-se das pessoas. Fez um protesto sobre o uso do telefone, distribuiu meias respostas e não se deu ao trabalho de fazer qualquer pergunta. Ainda assim, não melhorava. Ficou em dúvida com relação à natureza dessas pessoas, e quis saber se somente os otários, falsos, enxeridos e desocupados tinham um efeito ruim sobre ela. Para tirar a dúvida, foi a um evento na Praça da Liberdade num domingo quente, próximo ao Natal. Um formigueiro; um pesadelo; um show de horror. Segurou-se no ombro do sobrinho e sentiu que não passar do chão talvez não fosse tão simples assim. Teve vontade de gritar, de abrir caminho por entre aquela gente toda e correr até as pernas não quererem mais. Constatou que tinha alergia também às pessoas feias/ às barulhentas/ às cafonas/ às agitadas/ às oportunistas/ às lascivas/ às mórbidas/ às estranhas e às óbvias. Sabe, àquelas que respiram... Quis se livrar de todas elas de uma vez. Fechou os olhos, encheu a mão com meia dúzia de seres imprescindíveis e reconheceu ali sua porção de humanidade. Vestiu sua carapuça de vidro e preparou-se para sair à rua; não teve mais medo ou pena de ninguém.
Caralho, padeço dessa doença...
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