Ballet. Aulas de inglês. Rock'n'roll. Devaneios atemporais. Livros, livros, livros... Afinal, será que é assim que uma pessoa consegue ser plena? Perdendo-se alucinadamente em cada lojinha de doces? Abrindo a porta da sua cabeça e deixando todo mundo entrar? Que tal oferecer um pedaço seu na barganha? Você deixa a pessoa entrar e ainda dá uma surpresinha pra mantê-la ao menos... domesticada. Por que será que dói quando alguém cuja existência ainda não foi descoberta curte a sua festinha, leva a surpresa pra enfeitar a sala de estar e ainda fala mal do bolo e da decoração? Por que acreditar que o que não mata nos fortalece? Medo de ser fraco... de estar perdido e acabar no lugar errado. Já li receitas prontas, já conheci profissionais de sucesso, pessoas que se orgulham do que fazem e contam as calorias para alcançarem uma vida plena freneticamente. Pessoas que anotam cada centavo que sai da carteira compulsivamente, e assim equilibram suas contas. Pessoas que se acostumaram a sorrir e a comer comida fria porque é o que dá pra fazer. Pessoas que resolvem jogar tudo pra cima e começam de novo, e após o primeiro tropeço são tomadas pelo pavor e sonham com todas aquelas caras diárias sussurrando "eu avisei". Pessoas que nasceram sabendo o que queriam ser e tiveram sorte; pessoas que nasceram sabendo o que queriam ser e passaram a vida correndo na direção oposta por achar que não seria digno. O mundo está cheio de pessoas buscando coisas, sentimentos, outras pessoas. E cá entre nós, será que a cabeça aguenta se você parar? Era uma vez um enviado do Messias que durante anos preservou sua existência rogando pragas homéricas a quem quer que o ousasse tocar. Ele foi mantido preso em segredo e era temido por todos que o sabiam. Durante uma celebração no castelo, uma bela mulher enfeitiçou o rei com sua dança e se ofereceu em troca da cabeça do traidor. O rei não pensou duas vezes e pediu ao carrasco para executá-lo. Em poucos minutos a cabeça circulava em uma bandeja, para delírio dos convidados. No dia seguinte, três discípulos chegaram ao castelo para buscá-la. Aceitaram resignados sua tarefa, e o conto termina dizendo que como o sol era quente e a cabeça era muito pesada, tiveram que se revezar várias vezes pelo caminho. Espera pela recompensa ou medo do castigo, o que diabos nos move? Esperei o semestre todo para poder andar de patins pela Praça do Papa, com medo de me machucar e não poder participar do festival de ballet. Já passou o festival e os patins continuam no armário. Ensaiei o semestre todo para poder tocar no final do ano. Faço o que tenho que fazer, mas ainda assim sempre conto com um milagre - não confio na capacidade trivial do ser humano. Sabe aquele tempo meu e seu, aquele tempo em que nós dois éramos células pulsantes em um organismo tão peculiar? Na verdade ele nunca existiu. Eu existo aqui e você existe lá. Jamais conseguiremos nos ajudar a escolher a estrada porque somos diferentes. Olho pra mim aqui, feita de tanta coisa, e te desejo boa sorte sem sequer saber quem de nós vai precisar mais. Da janela o céu tenta me dizer que deve ser isso mesmo, e me sorri sem censura antes da chuva cair.
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