sexta-feira, 18 de junho de 2010

Novos tempos

Estamos vivendo uma era sufocante. Pensei muito em uma palavra para definir esse período, e sufocante foi a mais adequada. O Big Brother está sendo transposto para o nosso dia a dia, e as relações no trabalho têm se tornado cada vez mais superficiais, até a gente fazer a diferença - aí elas se tornam sufocantes. Trabalho há doze anos, sou professora há dez, e só agora percebi (porque ainda tenho a esperança de achar que eu estava muito distraída sendo feliz e só por isso não reparei que esse fenômeno já acontecia com os outros) a necessidade de provar o que se fala. A nossa palavra vale cada vez menos, e agora o papo, que antes era tomar uma cerveja pra desanuviar, ir ao cinema pra se divertir, novidades de um amigo pra variar, é escrever tudo pra se proteger, se documentar. Em todos os ambientes corporativos, corre à boca pequena que o novo pré-requisito é viver para a empresa, e levar seu livro aberto (vulgo vida) logo no primeiro dia, a fim de constituir documento. Estranho, nunca parei pra pensar que eu precisava me documentar. A palavra serve mesmo pra quê? Ah, não faz pergunta difícil, esse mecanismo já está defasado, tão antigo... E lá se vão as formiguinhas funcionárias: vendem o "direito" a educar os filhos, o "direito" a vê-los crescer e a possibilidade de prepará-los para o mundo com o único objetivo de consumir; pagar os tênis e as mochilas que os manterão bem colocados dentro da estrutura escolar. Tenho ficado um pouco encabulada e confusa com essa nova forma de ver as coisas. Se o repouso é remunerado, significa que o funcionário tem obrigação com a empresa até no repouso? Nunca fui o tipo de pessoa que ficou atenta a cada detalhe do contra-cheque, e graças a Deus trabalho em uma empresa onde esse tipo de preocupação nunca foi necessária. Nunca parei para pensar que todo e qualquer email que eu já escrevi na vida poderia ser usado contra mim a qualquer momento. É melhor pensar de novo.... Os novos tempos insistem em impedir que sejamos sinceros, que tenhamos a possibilidade de exprimir nossa opinião - e tudo de uma maneira tão sutil que a gente nem sente (será?). Sei que a gente precisa pagar pelo pão e pelo circo, mas como diria uma grande amiga, nossa mais-valia tem que atravessar as paredes dessa ditadura velada e valer o que contra-cheque algum vai ser capaz de pagar. Sejam cordeiros conscientes, e lembrem-se que o funcionário é oriundo de um reino distante, chamado terra das pessoas. Está pra nascer alguém que irá tomar uma alma nas mãos e, depois de uma análise detalhada, conseguirá dar a ela um preço - tudo que precisamos fazer agora é acreditar nisso.

4 comentários:

  1. Nossa nossa nossa!!!
    Sério, será que todos estão vivendo mecanicamente, sem pensar nisso?

    Concordo com tudo, a parte da criação dos filhos então!! Eu sempre penso nisso!!

    E você ainda vive no universo das "humanas"... não queira viver no das "exatas"...

    Beijao! Parabéns!!

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  2. E um dia eu pensei que seria possível ficar alheio a toda essa m@#$*& corporativa. Não fui capaz. Pelo menos ainda não.

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  3. Rage Against the Machine com cara de Ursinho Pimpão... Novos-velhos tempos...

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  4. http://carolheller.blogspot.com/2010/06/mais-valeria.html

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