sábado, 26 de junho de 2010

Acontecer x viver

Deserto. Fome, sede, cabeça enorme forçando o corpo pra baixo. Sinto e deixo doer, caminho em desencanto para um lugar onde não hei de chegar. Prendo o ar, fecho os olhos, tento esvaziar a mente... e choro. Choro porque vejo o fim da linha, porque está claro que por mais que eu olhe, é impossível a essa altura enxergar alguma coisa nova. Olho pro biscoito em cima da mesa: salgado, duro e decidido a não me impressionar. Eu já não tenho forças pra querer; primeiro andei depressa, depois andei devagar e um dia parei pra pensar em mim. Pensei em você. Parei pra pensar e não andei mais, quão irônico é isso?... Gastura, neura que pesa. Pensei no que os outros pensam de mim. Tentei pensar como um outro - perdi o fôlego. Pensei como eu pensaria e me assustei, porque de repente todos os meus pensamentos pertenciam a outras pessoas. Meus erros me deixam com a boca seca. Minhas atitudes extra-curriculares me trazem a azia mais profunda. Medo, por que é que você não acredita em mim quando eu digo que preciso de você? Sono, por que é que você tantas vezes me dá as costas? Cogito uma tentativa de alienação; dois dias em fuga; dois ouvidos desativados e um cérebro 30 horas. Não. Não aceito bem nada ou ninguém trabalhando sem trégua. Não tenho fome e isso não é um pecado. Tenho vontade de dizer que eu não preciso de você, que não faz mal querer outra coisa, que não funciono de manhã e nem trabalho com cheque. EU NÃO TENHO OBRIGAÇÃO DE TE ENTENDER, e é legal você entender isso. Falar não é fazer, querer não é poder, acreditar não é aceitar, compreender não é tão bom quanto amar, e amar não é melhor que esquecer. É digno fracassar onde os fracos não têm vez?
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A dúvida é saudável e a tristeza liberta, com seus devidos pingos nos is. Ocasionalmente, preparo-me para essa agradável visita - enfeito a mesa com chá e biscoitos, arrumo a sala de estar enquanto assobio e entro sem esforço em um belo vestido. Converso, cresço... e vou pra Praça do Papa, brincar de outra coisa.
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PS: O Ministério da Saúde adverte: entristeça-se e duvide com moderação.

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