Libri, libros, bücher, books, livres... Ontem li um texto sobre as transformações que a leitura exerce na vida das pessoas. O primeiro a me impressionar foi Rubem Fonseca. Feliz ano novo. Um choque, um incômodo que fica. Quis ler mais. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos me conquistou pelo título. Ela e outras mulheres, coletânea de contos. Quando minha concepção de literatura já estava irremediavelmente atrelada ao perverso, li Oscar Wilde e Dostoiévski. Luxúria e culpa - isso sim dá uma boa novela... A superficialidade dos valores ingleses, a revolução dos russos sem rublos - as duas histórias me transformaram. Ainda li um livro de contos pseudo-infantis do Wilde, selvagem em seu sarcasmo, certeiro em sua pontaria: incrível. The happy prince - de feliz só tem o nome. Dostoiévski me deu sede, angústia. Naquele emaranhado de personagens construídos há quase dois séculos encontrei-me de pé, febril, olhos brilhantes ao longe. Li muito do que ele escreveu, e me alegra que ele tenha escrito tanto. Vejo-me refletida em cada um de seus desatinos, em todos os seus exageros. Iniciei-me no universo de Dostoiévski com Raskólnikov; por algum tempo o ímpeto de transgressão e a busca pela culpa me impregnaram. Precisava de mais. Os Irmãos Karamazov. Dimítri me tocou - mergulhado no impulso, tropeçando em seus próprios passos tão resolutos quanto perdidos. Com O Jogador, aceitei minha natureza corrompida como uma virtude. O Idiota me fez entender que muita bondade é mesmo loucura - doçura mata. Tentei arrancar de mim tudo que lembrava o príncipe Míchkin, mas talvez não fosse o mais inteligente. Passeei pela aldeia de Stiepantchikov, e me diverti com seus habitantes não menos patéticos que nós mesmos. Degustei o paradoxo do homem do subsolo como prato principal - condição sine qua non de nossa existência. O último a me transformar foi Noites Brancas, um conto meigo em sua amargura, uma nuvem fina de previsibilidade romântica, um balde de água fria atemporal. Tempos depois, em uma prateleira empoeirada, ao acaso, encontrei Flaubert. Não sei se por tê-lo lido em outra língua, não sei se por sorvê-lo diariamente em locais de beleza pastel, entrei pela história adentro e não soube o que fazer quando ela terminou. Não senti pena, não fui solidária; vivi as escolhas de Madame Bovary junto a ela. Tão impactante foi essa comunhão que temo não mais conseguir estabelecê-la com livro algum. É um preço justo.
well, pra variar, muito boas suas análises, profundas de sentimento, ao mesmo tempo despojadas e livres. muito boa a sua escrita: objetiva, emotiva, justa. estou lendo crime e castigo. estou adorando. já estive com toslói em guerra e paz e em ana karênina: amei. eu, simplesmente, amo os russos. os irmãos karamázovi estão na fila. tchékov tb é muito bom.
ResponderExcluirbjo. vc é dez!
"Vale mais absolver dez culpados que condenar um inocente". Foi citando Dostoiévski que meu pai iniciou um de seus livros publicados. Sinto muito o fato de nunca ter lido os russos e muitos outros clássicos. Um defeito que tenho e ainda vou corrigir. Seu texto me inspirou e motivou. []s ;)
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