Sempre quando percebo que estou tentando me aventurar em um universo onde as pessoas fazem aquilo bem melhor, muito melhor, indubitavelmente verdadeiramente melhor, fico murcha, perco a fé. Quem foi o maluco que me disse que eu tinha um dom? O problema foi que eu acreditei, viu? Fui entrando devagar no mundo da música. Cantando, compondo, palpitando. E ouvindo. De Billie Holiday a Madeleine Peyroux, de Cássia Eller a Adriana Calcanhoto. Impressionada com a identidade vocal da Pity. Impressionada com a popularidade sem classe da Ivete Sangalo. Sentia a angústia de Julian Casablancas, sentia o desespero de Kurt Cobain; a força de Chris Cornell; a explosão de Zack de la Rocha; a suavidade de Zach Condon, a poesia do Buena Vista e de Bob Dylan... a purpurina de David Bowie. Abria a boca e pensava em Marisa - que desgosto você teria... Escrevia e me vinha Chico - que fraude, que mico... Fui abrindo as portas da literatura sem pedir licença. Tornei-me fã do Guimarães e do Garcia Marques. Flaubert e Sabino me fizeram chorar, mas Wilde, Rubem e Dostoiévski... ah, esses me dilaceram! Aí resolvo escrever um poema e morro de vergonha da Sylvia Plath, da Cecília... escrevo um conto e penso em Clarice, em Machado de Assis, que devem estar se revirando embaixo da terra com tamanha audácia! Quem é você, vil criatura? Achando que sabe das coisas? Ainda bem que existe o reino dos cara-dura. Lá a água bate mas nunca fura. Lá eu canto, escrevo, e finjo que estou madura.
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