segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Away with the fairies

Num sábado nublado, deixei a casa ressabiada – outra vez a viajar sozinha, cansada, pro destino aquiescer. Ia atrás das verdades difíceis de engolir, difíceis de esquecer. Buscava aquela beleza longa, lenta, aquela que fica, que é toda sua, crua, e que pra tanta gente nada representa. Ressignificar histórias... deitar o corpo, fechar os olhos cheios de memória e pedir pra sonhar com sensatez. Em menos de um mês corria de um lado pro outro querendo a mesma coisa – afeto, família, lar... esperava o aconchego se aprochegar. Devagar, pequenices começaram a se formar com cor e cheiro de nuvens – quanto amor, quantas luzes se acenderam pra eu passar! Veio até mim um lindo menino e perguntou Por que você chora? Porque seu pai te ama tanto que já o amo agora – quis que o meu me amasse assim... não consigo ir embora. Segurou minha mão. Por que então te afastas? Fique aqui – só isso basta. Afaguei suas bochechas rosadas – Talvez você tenha razão, mas preciso saber onde dá essa estrada.


Caminhei sem medo, banhada de amor e fé que não se explicam, coração transbordando de benevolência. Ganhei o perdão que eu pedira, o abraço que há tanto buscava – pesquei a sorte de um amor correspondido com toda a paciência. Fiz juras, ouvi promessas, entendi que o que me interessa é amar e ser amada, sem medo; sem pressa. Fiz as pazes com o passado, reescrevi o capítulo que sempre havia dado errado... ganhei bons sonhos de presente. Acordei segura, confiante, consciente, vesti minha melhor roupa, ornei-me de belos enfeites e cheguei exultante à sua porta. As palavras estavam ensaiadas e tudo que eu pensava era no recomeço daquele dia, no fim da guerra fria que me mortificava. Meu pai não atendeu, não ligou, não abriu a porta – nada importava, para ele estava morta. Deixei gaiola aberta com terna dedicatória, dei meia-volta e tentei em vão cobrir-me de nem-te-ligo, semblante desfeito, lágrimas teimosas a molhar meu sorriso manso, amigo... a embargar meus passos duros de falsa vitória.

*Dedicado a todos os pais que amam seus filhos, e a todos os filhos que compreendem com qualquer tipo de gratidão o amor de seus pais. Esse dia dos pais foi diferente, sem nem ao mesmo a possibilidade de dar com a cara na sua porta... Foi estranho, vazio, triste porque não tenho a menor ideia de onde e como você está, pai. Com todo o egoísmo que me cabe, queria que a gente tivesse tido tempo de ter um dia dos pais diferente. Que os anjos cuidem de você - meus bônus-hora são todos seus. 

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