... e tenho de forma cada vez mais petulante me sentido... inteligente. O contato com a vida acadêmica me libertou de um trauma antigo: o de gostar de livros em um momento, digamos, desfavorável. Agora uso óculos, ouço a música que eu quiser e leio. Muito. Sempre foi assim, mas agora tem um fato novo: posso falar sobre isso com outras pessoas e, dentro dessas intermináveis discussões que flutuam pelas salas de aula e perdem a classe em fóruns online, acabo por construir algo diferente, algo no qual talvez eu não tenha tido a sorte (ou o azar) de pensar antes. Depois das tantas coisas que tentei começar, improvisar, aperfeiçoar, percebi que estudar não depende de mais ninguém; é fluido, confortável, sozinho sem ser solitário, como nadar no escuro em uma noite de lua cheia, água morna. Enfim, nessa onda antes tarde do que blablabla, cá estou eu, pensando como louca. Penso e isso deveria diminuir a minha angústia, mas esse é o mal dos velhos junkies: acabam transferindo o vício, porque viver sem a compulsão não faz o menor sentido - o peito precisa dar uns pulos de vez em quando, velho, senão qual é a graça disso tudo? Desconto toda a saudade da minha Brahma em monólogos, diálogos, a falácia de quem acha que sabe das coisas - mal de professor. Em um ano já pensei em ir para a África, para Londres, para o campo, para a televisão, para os quintos dos infernos, para um lugar ao sol, aquele lugar quentinho em que ele nasce pra todos, mas acabei ficando aqui. Penso e acho que decidi, fico só, fico sã, fico meio desiludida com o jeito do amanhã que debruça na minha janela, mas ao final do dia nada disso importa muito, porque outro artigo se aproxima, outro livro se abre, mais um Power Point, teleduc, apresentação... e puf! Lá se foi a aspirante a bailarina que sonhava acordada e tomava um litro de leite por dia. Essa profundidade intelectual tem me deixado muito prática, cética, meio sem emoção, e ainda que coloque a mão no coração ao defender uma ideia, sei que não é amor daqueles que suspiram na boca do estômago e viram poema - é só vontade de se agarrar a qualquer coisa que traga ordem à casa, linearidade à vida e talvez...
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