Ainda que não tenha sido você o autor daquela carta, fiquei inquieta. Devorava cada uma daquelas palavras sem entender ao certo que gosto tinham - só sabia que queria mais: precisava. Corria os dedos pela página que, lépida, sussurrava as partes da nossa história que você por algum motivo guardou na gaveta, respostas que há tanto tempo eu procurava. Os dias, as horas, sentimentos em cima da mesa, montanhas de declarações e dúvidas: tinha que ser você, tinha que ser nós dois, era só o que eu pensava. Ainda que cantassem nossa música com outro sotaque, caminhei ávida por nossos desencontros, e inspirava cada "eu te amo"como se você os tivesse escrito e espalhado ao seu bel-prazer pela estrada afora, esperando que eu os colhesse com a emoção que me dominaria, e que de fato, naquele momento, me dominava. Ainda que aquele cálice não me tivesse sido oferecido, bebi toda a sua essência sem pensar em nada, até ela virar um soluço chamado curiosidade incerta. Pois o que seria a vida adulta sem um drama adolescente ou uma porta aberta? Viveria descalça numa terra distante se pudesse sentir meus pés no ar com um simples abraço; nada me faltaria se o som da sua presença me afagasse os cabelos, e a batida forte do seu coração me fechasse os olhos! Mas nada de fato acontece no futuro do pretérito. No presente do indicativo, a vida corre impiedosa e o mundo gira com pressa; enquanto penteio os cabelos, concluo com uma mistura de pesar e serenidade que, na verdade, ainda que você tivesse sido o autor daquela carta, talvez eu ficasse quieta. Sou bonita demais pra matar qualquer coisa, ainda que seja um sonho vazio ou um soluço chamado curiosidade incerta.
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