domingo, 3 de abril de 2011

Agora

Ele disse que estava atrasado, mas eu já nem sabia qual seria a hora certa. Vagava entorpecida por noites alheias, desfrutava dos silêncios e vícios de todas as mesas como se fossem meus. Ele dissera agora uma hora atrás, e eu ziguezagueava para pular os quens e porquês, meus poros transpirando impaciência. Pensava na praia, na areia, na garota bonita estendida e acarinhada pelo sol, na viagem para a Europa. Tudo tem um preço; agora ele sabia, e eu engolia a seco o prazer da descoberta. Senti que pela primeira vez sorvia mais que um pedaço de brisa, e amaldiçoei secretamente meu medo da indiferença. Ele viria, agora sim, com cheiros de flor e palavras de afeto. Desesperadamente. Finalmente. Sim... Ao seu devido tempo, tudo enfim aconteceria. Mas o tempo é assim: leva você e se esquece de mim, cria verdades que correm enquanto outras andam devagar. Não posso dizer que esperei porque as horas passaram, os dias se perderam. Quis apenas que aquele hoje não viesse, que o amanhã não chegasse mais.  Depois de tantos passos, senti num dia de sorte a necessidade de olhar para trás, procurar aquele agora de antes. Fui encontrá-lo sozinho às seis da manhã, rodeado de belas palavras que nada diriam. Brindava à sabedoria.

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