- Bom dia, amor. Seu café.
- Ah, mas como você é gentil...
- Tudo pra você me amar mais.
- Mais?
- É, a ponto de estar escrito nas estrelas.
- Puxa... meio brega, hein?
- O que é que eu posso fazer se você me inspira?
(A janela se abre).
- Vou deixar você com seus botões; hora de trabalhar.
- Como assim? Você acha que eu não trabalho?
- Mas quem falou isso? Se bobear você trabalha até mais que eu!
- Ah, ainda bem que você entende isso. Já pensou no tanto de coisas que tenho que ler e no tanto de lugares aonde tenho que ir só pra ter uma boa idéia?
- Você sabe que não se deve escrever ideia com acento, né?
- Mas de que adianta eu escrever ideia sem acento se desconheço todas as outras normas da ortografia moderna? Ou um ou outro, não?
- É, faça como você quiser então.
- Você está insinuando que eu deveria saber?
- O quê?
- As normas da ortografia moderna, uai!
- Bem... talvez. Afinal, quem faz o que você faz deve ter que saber isso, eu acho.
- Lá vem você, eu sabia! Faz cafezinho romântico, fala meia dúzia de breguices, tudo só pra me afrontar! Que ironia requintada a sua! Fazendo chacota do meu ganha-pão na minha cara... Devo admitir que você tem se superado a cada dia. O que anda lendo?
- Wilde, Flaubert, Maquiavel, Nietzsche. Você me deu uns, comprei os outros.
- Hum... nada mal. Me empresta?
- Claro. Estão na segunda e terceira gavetas do meu criado.
- Quer que eu te prepare um café?
- Obrigado, querida, estou atrasado.
- Você me inspira, sabia? Suas ideias me dão de comer.
- É, eu sei. Vou deixar você dormir mais um pouco.
(Beijo na testa. Porta se fecha junto com a janela).
- Alô, Fernando? Já dei comida pra ela. Avisa pro pessoal que hoje ela deve voltar a escrever.
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