Com a atual conjuntura do país, tenho pensado muito sobre o velho clichê – não menos importante por ser um clichê, contudo – “seja a mudança que você quer ver no mundo”. Não consigo entender por que as pessoas têm plantado ódio – e esperado – pasmem – colher amor. Christian Gurtner, autor do fantástico podcast Escriba Cafe, recentemente me presenteou com uma reflexão do filósofo escocês Adam Smith: “A ambição universal do homem é colher o que nunca plantou”. O que é que você vai fazer se o seu time não ganhar? Se domingo chegar e seu candidato não for eleito? Espero que algo diferente de torcer pro país se lascar e se contorcer de prazer quando algo der errado com um sorrisinho estampado de “eu te disse”. Tem muita coisa errada nesse governo, teve muita coisa errada nos anteriores e é preciso admitir – mas o que realmente precisamos assumir é nossa reponsabilidade enquanto criaturas habitantes desse enorme pedaço de terra e planta e gente e coisa chamado NOSSO país. O que você fez nesses últimos quatro anos em prol do seu semelhante? Reflita sobre isso com consciência. Além de reclamar e se desesperar como quando seu time perde um pênalti, além de compactuar com um gol roubado porque foi seu time que fez – porque afinal ele precisava do gol pra vencer – você ajudou alguém material ou moralmente? No espiritismo falamos em caridade moral, que, diferentemente da material, envolve empatia, escuta atenta, compreensão e respeito às diferenças, comunicação não-violenta, lealdade, honestidade, verdade – cuidado. Como sempre, vejo-me num ir e vir quando se trata de tais virtudes: a gente prega, mas dificilmente a gente faz. Dói em você quando se dá conta? Tem doído em mim cada vez mais, e cada vez mais tenho pedido força e coragem pra enfrentar meus próprios dragões e usar minha existência e minha posição nesse mundo pra de fato tentar ser menos vil, menos egoísta, menos intransigente: pra servir. Dói sair do sofá pra correr por uma hora seguida. Dói deixar alguém que você ama para que alguém que te ama possa te encontrar. Dói deixar uma vida, uma persona pra trás e junto com ela sonhos baseados no que você achava que te completaria, dói calçar aquele sapato lindo que te servia e agora só te machuca. Aos olhos de alguns, já fui mais interessante; aos meus, tento conter a angústia e a alegria de me moldar ao que realmente me pertence com trabalho, com perseverança, com a compreensão de que as palavras são fruto do pensamento e adubo para cada uma de nossas ações. No primeiro turno das eleições fui votar com um vestido branco e uma flor no cabelo – no peito a frase Vibre amor. Foi triste ver o olhar reprobatório de algumas pessoas, que associaram minha mensagem e minha luz ao comunismo que vai nos transformar na próxima Venezuela (!). Uma delas não se conteve e gritou do carro “vai pra Cuba, comunista!”. A única bandeira que eu carregava era a de paz e amor – sem bottom, sem camisa, sem cor, sem panfleto – e ela gerou ataque de pessoas que eu desconheço. Como bem pontua Krenak em A vida não é útil, “nós, seja na floresta, seja em um apartamento, precisamos despertar nosso poder interior e parar de ficar caçando um culpado ao nosso redor: uma corporação, um governo. Porque essas coisas todas acabam e nós não podemos ter uma data de validade igual à delas”. Mais amor por favor – a todo mundo que deseja de fato ver um país onde seu umbigo venha depois, um lugar onde todos possam ter os direitos fundamentais garantidos, onde todos nós nos mobilizaremos contra a fome, a miséria e a numeralização em detrimento da pessoização. Sem essa esperança somos somente um bando de almas perdidas plantando revolta e esperando lunaticamente por prosperidade e redenção.
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