Estado civil: recém-separada. Pela segunda vez. Tantas coisas pra dizer sobre tantas coisas, tantas situações e circunstâncias que nos definem e de repente parece que só isso importa - se você foi (mais uma vez) maltratada, traída, subjugada, ingênua, mesquinha, hipócrita... De que adianta todo esse ruído dentro do peito? Vozes que perguntam sem querer respostas, todas aquelas dúvidas disfarçadas de certezas bradando aos sete ventos. Você chora sem nem conseguir elencar os porquês. É o que acontece quando a gente pede pra ver. E eu, tão envolvida que estou com os estudos do evangelho e com minhas tarefas na casa espírita, me recusei inúmeras vezes a enxergar o que estava diante dos meus olhos. Mais um episódio de incompatibilidade. Um mais um não pode dar um, não mesmo. Mesmo com todo o meu orgulho, egoísmo e desejo de continuar onde estava, a espiritualidade não pôde me deixar quieta. Veja, Érika. Veja. Se houver obstáculo tão grande quanto o medo, peça a Jesus para te carregar enquanto ele te mostra que você precisa saber, precisa reagir, precisa sair daí. Com a cabeça às voltas, cheia de ideias confusas, eu vi. Vi o descaso, o abandono de si, vi o desrespeito. Vi a calúnia, a humilhação. Vi a violência, a ira, vi o peso da luxúria. Por dentro meus tecidos repuxavam, meus ossos craquelavam. O peso da dor acaba por trazer a mudança - porque quando dói você TEM QUE MUDAR. Mudar de casa, de telefone, de perspectiva, de hábitos, de sonhos. Até achei que fosse mais fraca, e consegui, no meio do furacão, abrir os olhos e me ver grande. Forte. Segurando rojão. Subindo e descendo com uma obstinação que veio da minha única vontade louca de ser feliz. Entre um minuto e outro, aquela falta de ar e o choro involuntário e a vontade de mandar pra puta que pariu quem quer que tenha me jogado fora na mesma sacola onde estava escrito "nossos planos". Caralho... Quem faz isso? A outra parte que comprou seus planos e enrolou pra pagar e acabou atrasando as prestações pra se dar um chapéu novo. If the cap fits, let'em wear it... Você deixa a chave sobre o balcão e pensa que quando virar pra abrir a porta, aquela sua casa vai voltar pro proprietário, aquele chapéu novo vai vestir outra cabeça e a sua vai ficar pelada até você encontrar aquele boné velho, perdido na mala da boa e velha eu. Poderia estar resmungando, reagindo mal, me entregando a um dia ruim, maltratando meu corpo só pra esquecer, em festa estranha com gente esquisita, mas preferi escrever um pouco de bobagens, tomar dois litros d'água, ler um pouco e me preparar para aquele momento mágico em que você entra no Netflix como se tivesse atravessado o portal de Greyscow e, mergulhada em adrenalina, começa a navegar pelos trailers e sinopses em busca da série perfeita, aquela que pede maratona de feriado. Bem destemida, né? Nada... Tenho tido muito medo das pessoas, porque elas buscam alegria onde a alegria não habita; porque elas não aprendem com a dor; porque elas não sabem chorar; porque de tanto traírem elas se atormentam e se traem; porque elas acreditam que a anestesia trará redenção. Até ter outras coisas pra me definir além do meu estado civil, prefiro diluir essa dor com água e esperar pelo dia em que alguém vai me dizer (ainda que seja em sonho) que eu passei de fase no vídeo game, que o sol está doido pra me acompanhar em uma caminhada e que assim que eu botar o pé na rua vou ver várias versões de mim mesma nos olhos de quem quiser me acompanhar. Vim, paguei pra ver e sei que a vitória já pediu o Uber :)
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