... e foi assim, de um jeito que não se explica, em dia que não se lembra. Num daqueles dias em que a gente acha que era feliz; saber, mas se nem agora dá pra se saber de coisa alguma...
Fiquei um bom tempo achando que falava demais - que nesse mundo de verdades veladas eu sinto e demonstro tudo... me aprazia o som da minha própria voz, e com fás e sois iam-se histórias, gracejos, balelas de todo tipo... risadas e dores sinceras. Sonhando como o homem ridículo que tomou o coração de Dostoiévski nos braços cansados, febril no meu devaneio idiota da bondade (vulgo maneira simples de querer, ser, viver e sentir) ocorreu-me um dia o desejo de calar-me. Por um dia e outras horas, por tempos alheios ao todo dia comum. Quando foi não posso ao certo dizer-lhe, mas bons ventos me dizem que talvez não seja lá tão importante assim.
E de repente estava ali, cantando sem poder cantar; falando sem conseguir, garganta arranhando sem querer... e eu só pensava nos tantos cantos e contos que eu ainda tinha que contar, nas cantigas de ninar que sussurraria para os meus filhos queridos em uma noite de chuva tão bonita quanto agora, com porções de carinho sobre a mesa farta de ideias, luz, paz e oração. Veio-me à cabeça tudo que eu diria em prol da civilidade, da poesia, da educação, da serenidade, porque é isso o que eu busco - é por isso que eu luto: por um caminho bonito, por um destino certo. Pensei, pensei... e entendi que há de chegar a hora em que meus olhos te dirão com um sorriso tudo o que o calor do meu corpo te confessa sem pretensão - que o universo é quem nos orienta; que sem ouvir meu canto você assovia a minha canção.
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