quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Away with the fairest

Quando você tiver a minha idade, vai achar que era linda dez anos atrás. Vai pensar que a cor do seu cabelo combinava perfeitamente com o tom da sua pele; vai lembrar que exercitava o corpo sem perceber, e que ia vivendo um dia depois do outro, um namorado depois do outro, sem temer o tique-taque do relógio. Quando você chegar onde eu cheguei, vai sentir um quê de nostalgia ao ver fotos da galera, ao passar por lugares que te conheceram muito mais leve, ao acaso, pencas de ideias a balançar-lhe os cabelos molhados sem reparador de pontas ou leave-in. Pode ser que você esteja solteira, caçando o gato porque o cão já saiu de linha - vale tudo pra chamar alguém de amor ou xuxu no facebook. Pela casa, post-its com dietas gluten-free, horários dos cremes, pílulas de colágeno, doses de chá verde, sessões de carboxi, telefone da analista e do personal. Pode ser que esteja casada, correndo atrás do prejuízo com as mesmas receitas de juventude, varrendo a sujeira conjugal para debaixo do tapete ou montando clubes do livro para discutir o que fazer quando há tanta coisa errada no seu relacionamento, carta do mico a queimar-lhe a mão esquerda, aquela pergunta roçando-lhe a garganta ao encontrar encabuladamente seus olhos no espelho: "E agora, José?". Pode ser que tenha dado um basta nessa tragédia anunciada e componha agora o time das separadas. Provavelmente você integra nesse momento uma das seguintes categorias: as que acreditam em alma gêmea caindo de paraquedas na sua sala de aula, as que querem mais é fazer paracadá na vã e as que limitaram o "atirar pra todo lado" ao campo profissional.  Ainda que eu acredite piamente que, quando você tiver a minha idade, vestidos justos, curtos, decotados, peitos à mostra e fotos com v e beijinho já sejam carta fora do baralho, suas escolhas jamais me dirão respeito. Só queria que você pensasse que foram as suas pernas que te trouxeram até onde você está, e não o coração, a cabeça ou o dinheiro do seu pai/marido, como você teima em concluir tantas vezes. Essa caminhada pode ser bem mais física do que se imagina - é cansativa, e de tão cansada a gente fica mais forte, e de tão forte a gente acredita mais na gente, e acreditando a gente consegue se ver bem mais bonita e iluminada do que quando começou todo o processo. The point being: se depois de andar tanto você ainda achar que precisa ter vinte anos outra vez, tome um Dreher. Ou pegue uma carona com o Raul sem lenço e sem documento: há muita gente nesse mundo querendo que você tente outra vez.

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