Aproveito-me da energia que vem com o poder de cada palavra e calo-me com consciência. Em certas ocasiões sou obrigada a ater-me em reverência ao que idealmente não me agradaria, movida pela fé que coloca todos os seres em seus devidos lugares, pré-purgação, pós-penitência. Por vezes uma única atitude condenável de um terceiro adoece meu casulo terreno, enegrece minhas energias vitais, turva minhas vistas com ira, fadiga e a mais pura e sincera desesperança. Sinto-me fraca demais para continuar a caminhada com a resignação que minha fé demanda, e ainda assim não deixam de chegar-me aos ouvidos conselhos e mensagens de força - respostas vindas de terras distantes, de noites frias e tardes brandas.
Um dia desses, numa dessas conversas de fim de tarde, surgiu a danada dúvida cruel: digo, não digo ou desdigo o mal que já está quase feito? Antes que pudesse tomar partido, no entanto, saboreei uma porção de desencanto quando você disse o que não devia ser dito. O gosto daquela verdade feia aguçou os meus sentidos como fruta azeda a ferir-me o paladar e a doer-me os ouvidos; aquele pedaço de alma desalmada foi e voltou pela minha garganta um milhão de vezes sem que pudesse ser digerido. Não virou ferida, não - virou borboleta que saiu voando depressa pelo mundo afora, doida pra espalhar a notícia: segredos da alma fazem parte da vida, e certas coisas são tão erradas que precisam bater asas antes de virar palavra, para nunca serem ditas.
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