terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Por favor pare agora

Esse é o momento derradeiro: momento em que se olha pra trás procurando pelas glórias alcançadas; momento em que se olha para a frente planejando as próximas. Nesse momento especial, me vieram à cabeça duas lembranças que pretendo levar para toda a vida. 

A primeira é a de um trabalho voluntário que minha mãe realizou no CVV - Centro de Valorização à Vida - aqui em Belo Horizonte há alguns anos. Esse programa contava com um call center que recebia ligações de pessoas que, por algum motivo, não estavam felizes com suas vidas - sem eufemismos, suicidas em potencial. Não era um trabalho fácil por vários motivos evidentes, mas dentre os motivos não tão evidentes assim, não era fácil porque a tarefa era simplesmente OUVIR. Isso mesmo, ouvir. Ouvir sem dar palpites, sem analisar o que se ouve, sem buscar uma solução, sem tentar entender por quê. Ouvir com interesse - esse era o trabalho dos voluntários do CVV. Todos eles passavam por um treinamento cuidadoso de forma a cumprirem com esse precioso combinado. Se pararmos pra pensar, a dificuldade em ouvir parece ainda maior ao descobrirmos que ela vem de dentro. A impaciência e a ansiedade são grandes vilões nessa história, e no final das contas, a busca pela sabedoria envolve uma luta árdua, diária, insistente que muitas vezes não nos damos ao trabalho de vencer. Quando um amigo ou um parente deseja compartilhar um dissabor, nunca nos passa pela cabeça que talvez ele só queira ser ouvido; que falar sobre o problema vai fazer com que ele mesmo se alivie ou tenha uma boa ideia; que ouvi-lo terá muito mais valor que propor uma solução ou esfarelar suas mazelas em cima da mesa, felicidade de todo analista. Não importa o seu método - enfiar o dedo na ferida do outro, propor uma terapia que funciona pra você mas pode não funcionar pra mais ninguém, dar uma aula de moral e bons costumes, jogar os holofotes pra você e os seus "eu acho" - porque o assunto nesse momento não é você, o que você acha, o que te ajudou, o que você vê, o que faria... não. Esse é o espaço de uma pessoa que sofre e precisa de um ombro amigo. Se você não puder oferecer esse ombro, não ofereça outra coisa pelo costume de oferecer - nada mais importa.

A segunda vem do filme "Pride and prejudice", uma obra-prima, em uma cena de repreensão da mãe para com a filha mais nova. O comentário é pontual - quando não houver nada de bom para falar, fale sobre o tempo. Já partilhei essas palavras com vocês há mais tempo, mas reforço esses dizeres aqui porque desejo que eles jamais me abandonem. Falar é fácil, falar é rápido, falar é cômodo, porque, diferente de escrever, falar geralmente não envolve um pensamento prévio. As palavras têm a força para erguer e derrubar uma muralha, não se esqueçam. 

Ouvir pelo menos duas vezes mais do que se fala tem sido o meu lema por algum tempo, e mesmo assim não posso considerá-lo, até o momento, uma meta alcançada - nem mesmo alcançável. Ainda. Penso que quando chegar lá, conhecerei a verdadeira paz. Acho que muitos de vocês devem estar pensando que esse foi um ano de grandes mudanças, realizações de todo tipo, exploração do eu interior em busca de respostas, entendimento e clareza que fizeram com que você se sentisse seguro o bastante para transferir sua receita de sucesso para a vida alheia - em outras palavras: que você* se intitulasse o Mestre dos Magos e saísse por aí pregando o segredo da felicidade a quem quer que esteja mais próximo. Acredito realmente que a intenção seja boa, mas ainda acho que ouvir sem qualquer intenção gera um mundo inteiro de mudanças e novas perspectivas pra você também. 

Desejo um ano novo com mais amor, mais justiça, mais palavras de otimismo e encorajamento, mais sonhos que englobem uma área maior que o escopo do seu próprio umbigo. Mais liberdade, igualdade e fraternidade para todos nós - e isso só será reduzido a uma mera utopia se for o que a gente quiser. Não custa tentar... Feliz 2013!

*me included

2 comentários:

  1. Curti demais essa postagem! Obrigada por soltar na rede textos assim. Estou sempre acompanhando... ;-)

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  2. Fico realmente feliz, Garofalo! Um beijo grande e um feliz 2013!

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