Quis te escrever antes de dormir porque fiquei pensando muito em você o
dia inteiro hoje. Há algum tempo você não está bem, e às vezes vejo em
você o que eu fui no primeiro ano do meu casamento. A gente tem mil
expectativas, imagina tudo de uma forma e de repente percebe que o
mundo não é cor-de-rosa e que as coisas são bem mais difíceis do que
deveriam. O que a gente não entende é o quanto amadurece enquanto passa
por esse processo. Começamos a enxergar que o motivo principal pelo qual não está dando certo é a nossa forma de ver as coisas,
imatura, egocêntrica e imediatista. A gente não se dá conta de que Deus
nos deu essa força toda para que possamos estruturar nosso lar com tranquilidade
e sabedoria, e que nosso papel enquanto mulheres é que determina o rumo
de nossa relação. Ontem mesmo estava reclamando mais uma vez, e ontem
mesmo calcei a cara e o coração de esperança e tive mais uma longa conversa. É assim que eu consigo ter mais dias felizes que
tristes por semana, e é essa a missão da qual fui incumbida agora. De
alguma forma, tenho aprendido a aprender com os tombos, a transformá-los
em vitórias, e por isso quero te transmitir essa força. Não são os
rituais que a trazem pra nós - é a nossa fé, a fé que independe de
religião, que nos garante que tudo tem um propósito. Não temo a Deus -
confio nele enquanto ser humano, passível de erros e acertos, e acredito
em sua orientação. Acredito que o julgamento é nossa maior fraqueza,
porque é tão fácil como ver televisão: de repente você se vê ali há
horas, nadando na improdutividade, aliviando a parte mais superficial do
seu espírito enquanto se delicia com suas concepções pré-formadas. Não é
muito mais fácil falar do outro do que olhar pra dentro? Sei que ainda
reclamo demais, e me entristeço ao pensar que minhas fragilidades muitas vezes foram parar em
ouvidos errados, ouvidos que viraram bocas que se enchem de veneno ao
vomitar minhas angústias em qualquer mesa de buteco. Tem gente que sabe
das coisas e bate na mesa, bradando aos quatro ventos "eu sabia", "eu
disse a ela", "aquilo ali é loucura", "não tem jeito". Falar do outro não dói, mas deveria... Minha mãe
trabalhou em um lugar uma vez em que a única atribuição era ouvir
desabafos por telefone. Ouvir. Só. Acho que ninguém consegue só ouvir -
tem logo que dar sua velha opinião formada sobre tudo. A gente se acha
evoluído em tanta coisa, mas está pronto para atirar uma pedra enorme no
primeiro que falhar. Preciso aprender a externalizar menos os meus
problemas, mas aí me lembro da minha vó que sempre disse tudo o que
pensava e morreu dormindo. Acho que preciso de mais amigos que me ouçam
pela amizade pura e simples. Fico triste pelos que jamais hão de conseguir absorver qualquer informação sem nenhum julgamento, e feliz pelos que me consideram o suficiente para tentar. Que me mandem a força que mando a você
de vez em quando, e que tenham doçura na alma pra trocar o "só tende a
piorar" por um "tenho certeza de que isso vai passar e vai dar tudo
certo de novo". A gente não sabe se vai piorar ou dar tudo certo - mas
desejar o bem é sempre mais nobre. Uma amiga me disse um belo dia que a
felicidade de um lar está nas mãos da mulher: é ela que determina como quer sua relação, é ela quem traz harmonia à sua casa. É duro constatar
isso, mas se as coisas não estão indo bem, tudo aponta pra nossa
inabilidade de resolver as questões à nossa volta com paciência, com
alegria, com serenidade. Não é fácil e nunca será, mas se esperamos
fazer do mundo um lugar melhor, precisamos começar de nós mesmos. Olhar
pra dentro pode ser bem doloroso, mas é uma responsabilidade a nós
atribuída para que sejamos donos da nossa própria história, e para que
possamos um dia entender o significado da palavra amor. Força - estamos juntos...
Obrigada, amiga, por dividir conosco a sua força e generosidade!
ResponderExcluirBeijo enorme, Milena
É bem por aí mesmo... e eu tô com vc, e como vc, em tudo o que disse... não é à toa né?! Amo vc.
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