Você dizia que eu tinha que ser mais alegre - mesmo sabendo que a tristeza perfuma minha alma e dá vazão à minha arte. Você temia enjoar dos meus jeans surrados, e nunca escondi que sou a rainha da calça jeans que anda sozinha. Você me imaginava de salto e eu aparecia de tênis. Acho que secretamente desejava que eu fosse mais feminina - e eu envolvida com kick boxing e futebol... Tentou marcar um encontro, me convidar pra jantar, mas eu queria mesmo era sentar num lugar qualquer e tomar muita cerveja. Você se achava o fino e nunca pôde dizer que eu era grossa, já que a minha educação vem de casa. Impressionou-se com minha sinceridade, queria que eu tivesse a classe - ou a sabedoria - para jogar com o charme e a sagacidade que Deus dá de presente a cada mulher. Digamos que fui bem decepcionante nesse sentido. Quando me olhava, eu sentia você destacando meu nariz afilado, olhos grandes, sorriso bonito e tentando inutilmente colá-los na sua fantasia. Por vezes você me encarou com curiosidade, e eu vi um filme passando pela sua cabeça em poucos segundos. O futuro te afligia. Seus pais, seus amigos, suas amigas emplastadas e impiedosas. Todas eram feias e eu não ligava. Você tinha tantas feiúras acumuladas, a alma maculada, transtornos e vilezas peculiares, um discurso tão piegas quanto limitado, e isso não me incomodava. Encantava-me ver dentro de você.
Hoje faço ballet, mas assisto a muito futebol; uso vestidos e saltos junto com meus jeans surrados e tênis encardidos; gosto de um bom restaurante e de cerveja gelada; tenho me atentado mais para a maldade das pessoas mas continuo falando o que penso. Procuro o sol com mais frequência, mas sempre serei fã dos tons pastel. Adoro quem me adora, adoro o que me faz bem, e me reservo o direito de uns mal bocados ocasionais. Acho que isso se chama evolução, não sei bem. A única coisa certa é que eu jamais serei quem você procura; agora vá entender por que isso te deixa triste e me faz feliz...
Putz!!! Adorei esse texto. Tem muito a ver com o texto de um novo espetáculo de teatro que dei início às escritas. Bonitas as análises de It ain't me. Ainda está bem fresquinho, recém saído do forno, né Érika. Parabéns!!! Abração. CRISTIANO AGUIAR
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