terça-feira, 14 de julho de 2009

TRILOGIA O HOMEM, Episódio 2: Sonhos verdes


Ele ficou ali imaginando seu rosto em outros tempos – linda, não haveria ou havia outra com toda aquela disputa, toda aquela convulsão dentro dela. Ela queria ser três, e delirava de três formas diferentes quando comia goiabada. Como ela estaria, em que braços, com que fortuna? Um dia ele não quis mais, simples assim. E agora tentava lembrar o por quê. Linda, não há como negar. Ele olhava sua foto na capa da revista, e não entendia. Como teria sido, o que se há de fazer, ele queria agora reconquistá-la. Iria jogar na mesa todas aquelas viagens, toda saudade e abraço por telefone, e ela iria chorar, se entregaria completamente. E ele lembrou-se daquele passeio, da meiguice desajeitada do sorriso dela. E tremia. Agora ela ali, na capa da revista, tão doce e macia, saliente como nunca; ele olhava e sorria, pensava nas fantasias que poderia ter realizado com ela. Pensou que não era tarde para realizá-las. Decidiu que era hora de agir. Percebeu que daria um grande passo com essa investida. Acendeu um cigarro, se deliciou com a idéia de aparecer no Domingão do Faustão, em rede nacional, fazendo uma declaração careta e charmosa para aquela gatinha que seria então sua esposa. Era bom demais tudo aquilo: convites para entrevistas no Vídeo Show, sua vida na Caras e em programas de TV, sua estréia como ator – porque, afinal, se uma gostosa como ela quis casar-se com ele, viraria com certeza o próximo galã das novelas –; agradeceria ao Faustão pela oportunidade daquela estréia na televisão brasileira, quando o país não resistiu aos seus olhos, seu jeito de ser... os filhos já seriam garantidamente ricos e famosos. Envelheceria com vários rumores sobre seus constantes affairs com estrelas do show business. E adormeceu.

No dia seguinte, soube que a gostosa havia se casado com um pagodeiro do momento. Passou o dia no sofá, estático, amargando seus sonhos verdes.

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