terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sempre troppo poco


Essa foto foi tirada em um motim. Fiquei olhando pra ela um bom tempo pra tentar entender esse momento, pra captar a indignação expressa por essas palavras, e associei essa mensagem - sempre pouco demais - ao que os políticos fazem pelos cidadãos, ao que a organização das nações unidas faz pelos povos que vivem em alerta vermelho, ao que a justiça faz pela sociedade, à "ajuda" que os países ricos em sua generosidade ímpar dão aos pobres. Pensei também no outro lado, no do cidadão que trabalha honestamente, que tem um mundo de vidas pra sustentar, que ainda tem que amar os filhos, amar a mulher, fazer malabarismo com seu salário e vive atormentado pela certeza de que não é e nunca será o suficiente.
Há poucos dias, olhei de novo pra essa foto e fiquei pensando... por que será que é sempre tão pouco? Por que não há plenitude com o que se tem? Por que sempre tentamos do jeito mais difícil, por que insistimos em nos desvencilhar de um futuro que de repente já estava certo? Por que o fácil é tão patético, por que o simples cai no ridículo? Nossas cabeças estão sempre a pensar em algo novo, algo incrível: vamos à revolução! Saímos às ruas, mudamos de cidade, almejamos um outro estilo de vida, uma nova ideologia que nos permita estar sempre aqui e lá, sempre diferentes, sempre preenchendo nossa falta de perspectiva, de imaginação, camuflando nossa mediocridade. Queremos lutar pelas massas e multidões, pelos oprimidos, pelos inúmeros seres que habitam esta terra e suas mazelas. Por favor não me entendam mal quando assim o digo, acredito piamente que é muito importante pensar em nosso papel nesse planeta, e primordial reservar tempo, espaço e disposição para ajudar a mudar o mundo - mas precisamos, ao mesmo tempo, acertar periodicamente as contas conosco. Tem gente que se olha no espelho e acha que do outro lado está Ernesto Guevara; no entanto, o que lá existe nada mais é que o espectro do empoeirado Coronel Aureliano Buendía, também latino, também revolucionário, que vai à luta, que está lá por quem quer que precise, mas que faz guerra unicamente pra esquecer-se de si, um idealista sem ideal, que dia após dia acumula derrotas na revolução de si próprio, até ser consumido por cem anos de solidão.
Penso que muitas vezes somos tidos como mártires, santos, heróis, aclamados por um coro sem precedentes, e quando cai a noite, com o coração apertado, estamos sozinhos e tentamos chorar, abraçados aos travesseiros, numa tentativa de tirar do peito a angustiante resignação por não termos o que não temos, por querermos o que querer já não se pode. Por tudo que existe ser sempre pouco demais...

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