terça-feira, 10 de novembro de 2009

Diferença...

Queria sair
ir pra onde o vento não sopre
lá onde o sol não me ache...
queria parar de ouvir
os lamentos que me cercam
e acreditar nas sombras que de longe
me enfraquecem, me sucateiam
Não há mais o que ver nem em que crer
não há mais o que temer
e ainda assim tenho medo
de acordar e não ser mais eu
de esquecer a melodia,
de perder a hora para toda
e qualquer coisa.
Queria sair e tenho que entrar.
Tenho que pegar a chave
caminhar até a porta
abri-la sem nenhuma vontade
acender as luzes e sorrir.
Há quem diga que um dia
o hoje será uma oportunidade
de se pensar o amanhã.
Até lá a gente caminha
nada de braçada na discórdia
reza e pede pela indiferença.

Diferença...

Queria sair
ir pra onde o vento não sopre
lá onde o sol não me ache...
queria parar de ouvir
os lamentos que me cercam
e acreditar nas sombras que de longe
me enfraquecem, me sucateiam
Não há mais o que ver nem em que crer
não há mais o que temer
e ainda assim tenho medo
de acordar e não ser mais eu
de esquecer a melodia,
de perder a hora para toda
e qualquer coisa.
Queria sair e tenho que entrar.
Tenho que pegar a chave
caminhar até a porta
abri-la sem nenhuma vontade
acender as luzes e sorrir.
Há quem diga que um dia
o hoje será uma oportunidade
de se pensar o amanhã.
Até lá a gente caminha
nada de braçada na discórdia
reza e pede pela indiferença.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Contos de Natal

---Era uma vez um senhor que se casou com sua colega de escola. Nunca haviam imaginado que poderiam ser tão felizes. Realmente o foram, até que Leila, a colega de escola, faleceu em um acidente de carro. Na verdade, como contaram depois, o acidente foi provocado pela morte da própria Leila dentro do carro. Ela voltava de seu curso de bordado com a amiga Nice, quando, depois de três perguntas não respondidas, João, o filho caçula de Nice, disse à mãe que dona Leila não iria responder porque tinha dormido de tanto frio. Nice virou-se para olhar a amiga e bateu em uma árvore. João sobreviveu para contar a história.
---O nome do senhor era Armando. Aposentado há alguns anos, vivia para agradar a esposa. Levava e buscava a companheira em todos os cursos, em todos os lugares. E olha que eram muitos. Seu Armando nunca reclamou, seus olhinhos azuis brilhavam ao avistar sua pequena - assim ele a chamava. Sua vida terminou quando ligaram do hospital para dar-lhe a notícia. Ele estava de cama, com uma febre altíssima, e por isso dona Leila havia convencido o marido de que ele deveria descansar; ela iria ao curso de bordado com a amiga e vizinha. De que valia descansar agora? Quantas coisas ele quis dizer, quantas coisas quis que fizessem juntos... Andava desorientado pela casa, recolhendo tudo que ainda tinha seu cheiro, espremia os olhos para lembrar-se de cada sorriso, de cada traço presente no rosto dela. Apertava as mãos trêmulas e imaginava segurar a mãozinha quente de dona Leila, sua colega de escola.
---A vida que terminou não podia terminar na verdade. Seu Armando era muito católico e sabia que não poderia jamais atentar contra a própria vida. O que ele decidiu fazer foi bem simples - sentou... e esperou. Rezava fervorosamente e pedia a dona Leila para vir buscá-lo, todos os dias. Fez contato com outras dimensões, organizava reuniões mediúnicas na sala de sua casa. E, claro, sempre recorria ao seu tercinho bento na hora de dormir.
---Passados alguns meses, começou um dia a ouvir sua voz, bem ao longe. Rezava e pedia "Meu amor, minha pequena, me leve com você". Ainda não conseguia entender o que lhe respondia a vozinha de dona Leila. Aos poucos, ela foi se tornando mais firme, mais próxima, mas ainda assim seu Armando nada compreendia. Dona Leila apareceu num dia de chuva, no meio da sala de jantar. "Graças a Deus! O Senhor seja louvado! Minha pequena veio me buscar, hosana nas alturas!" Já ia se levantando da poltrona, quando dona Leila o interrompeu com um gesto brusco. "Olha, bem, infelizmente você não pode vir comigo para o reino dos céus". Seu Armando caiu na poltrona, incrédulo. "O que é que você está dizendo, pequena? Você não está aqui pra me buscar? Já não sofri o suficiente? Tudo que eu quero é ficar do seu lado por toda a eternidade." Dona Leila respirou fundo: "Pois é, bem, mas não vai dar." Seu Armando, paralisado, tentava decifrar a feição neutra da esposa, aquele rosto tão agradável... que nada dizia. Depois de alguns segundos, dona Leila tomou fôlego e falou de uma vez: "Você não pode subir comigo ao reino dos céus porque você me traiu, Armando." Pausa. Longa. O pobre homem achou que iria enfartar ali mesmo. Tentou buscar dentro da cabeça uma única brecha em sua conduta, já que havia dedicado toda uma vida àquela criatura que agora o acusava à queima-roupa. "Quando a gente morre, recebe um filme sobre nossas vidas, sabe? Nesse filme vi você, em 1958, de mão dada com a Wandinha da sorveteria dentro do cinema." Seu Armando olhava a mulher, perplexo. "A gente já namorava, Armando." Dona Leila tentou segurar o choro. "Enfim, Deus, Senhor misericordioso, me perguntou se eu te perdoaria por isso, essa sendo a condição para que você viesse a me acompanhar na eternidade." Pausa. "A resposta você já sabe." Choque. 10.000 Volts.
---Seu Armando, 69 anos, bonitão e cheio de vida - e de dinheiro - não acreditava no que ouvia. Ficou quieto, enterrado em sua poltrona, por alguns minutos. A mulher olhava pela janela, também em silêncio. "Quer dizer que você vem lá do além pra me comunicar que não vai me levar." "Isso mesmo." O homem levantou-se devagar, com certa dificuldade, e foi até o telefone. "Espere aí." Ligou para Tânia, uma gostosa que participava das reuniões mediúnicas e dava bem em cima dele. Em cinco minutos o interfone tocava. "Agora pode ir, tenho visita." Dona Leila, incrédula, assistiu ao momento em que a porta se abriu e aquela ruiva escultural entrou sexy e sorrateira como uma tigresa.
---Seu Armando morreu pouco depois; sofreu infarto fulminante durante o coito. Dizem seus companheiros mediúnicos que foi pra um lugar muito quente, cheio de festas, música alta e gatinhas de biquíni. Nunca na vida ele havia estado em um lugar como aquele. Tenho pra mim que ele não achou ruim, não.

Contos de Natal

---Era uma vez um senhor que se casou com sua colega de escola. Nunca haviam imaginado que poderiam ser tão felizes. Realmente o foram, até que Leila, a colega de escola, faleceu em um acidente de carro. Na verdade, como contaram depois, o acidente foi provocado pela morte da própria Leila dentro do carro. Ela voltava de seu curso de bordado com a amiga Nice, quando, depois de três perguntas não respondidas, João, o filho caçula de Nice, disse à mãe que dona Leila não iria responder porque tinha dormido de tanto frio. Nice virou-se para olhar a amiga e bateu em uma árvore. João sobreviveu para contar a história.
---O nome do senhor era Armando. Aposentado há alguns anos, vivia para agradar a esposa. Levava e buscava a companheira em todos os cursos, em todos os lugares. E olha que eram muitos. Seu Armando nunca reclamou, seus olhinhos azuis brilhavam ao avistar sua pequena - assim ele a chamava. Sua vida terminou quando ligaram do hospital para dar-lhe a notícia. Ele estava de cama, com uma febre altíssima, e por isso dona Leila havia convencido o marido de que ele deveria descansar; ela iria ao curso de bordado com a amiga e vizinha. De que valia descansar agora? Quantas coisas ele quis dizer, quantas coisas quis que fizessem juntos... Andava desorientado pela casa, recolhendo tudo que ainda tinha seu cheiro, espremia os olhos para lembrar-se de cada sorriso, de cada traço presente no rosto dela. Apertava as mãos trêmulas e imaginava segurar a mãozinha quente de dona Leila, sua colega de escola.
---A vida que terminou não podia terminar na verdade. Seu Armando era muito católico e sabia que não poderia jamais atentar contra a própria vida. O que ele decidiu fazer foi bem simples - sentou... e esperou. Rezava fervorosamente e pedia a dona Leila para vir buscá-lo, todos os dias. Fez contato com outras dimensões, organizava reuniões mediúnicas na sala de sua casa. E, claro, sempre recorria ao seu tercinho bento na hora de dormir.
---Passados alguns meses, começou um dia a ouvir sua voz, bem ao longe. Rezava e pedia "Meu amor, minha pequena, me leve com você". Ainda não conseguia entender o que lhe respondia a vozinha de dona Leila. Aos poucos, ela foi se tornando mais firme, mais próxima, mas ainda assim seu Armando nada compreendia. Dona Leila apareceu num dia de chuva, no meio da sala de jantar. "Graças a Deus! O Senhor seja louvado! Minha pequena veio me buscar, hosana nas alturas!" Já ia se levantando da poltrona, quando dona Leila o interrompeu com um gesto brusco. "Olha, bem, infelizmente você não pode vir comigo para o reino dos céus". Seu Armando caiu na poltrona, incrédulo. "O que é que você está dizendo, pequena? Você não está aqui pra me buscar? Já não sofri o suficiente? Tudo que eu quero é ficar do seu lado por toda a eternidade." Dona Leila respirou fundo: "Pois é, bem, mas não vai dar." Seu Armando, paralisado, tentava decifrar a feição neutra da esposa, aquele rosto tão agradável... que nada dizia. Depois de alguns segundos, dona Leila tomou fôlego e falou de uma vez: "Você não pode subir comigo ao reino dos céus porque você me traiu, Armando." Pausa. Longa. O pobre homem achou que iria enfartar ali mesmo. Tentou buscar dentro da cabeça uma única brecha em sua conduta, já que havia dedicado toda uma vida àquela criatura que agora o acusava à queima-roupa. "Quando a gente morre, recebe um filme sobre nossas vidas, sabe? Nesse filme vi você, em 1958, de mão dada com a Wandinha da sorveteria dentro do cinema." Seu Armando olhava a mulher, perplexo. "A gente já namorava, Armando." Dona Leila tentou segurar o choro. "Enfim, Deus, Senhor misericordioso, me perguntou se eu te perdoaria por isso, essa sendo a condição para que você viesse a me acompanhar na eternidade." Pausa. "A resposta você já sabe." Choque. 10.000 Volts.
---Seu Armando, 69 anos, bonitão e cheio de vida - e de dinheiro - não acreditava no que ouvia. Ficou quieto, enterrado em sua poltrona, por alguns minutos. A mulher olhava pela janela, também em silêncio. "Quer dizer que você vem lá do além pra me comunicar que não vai me levar." "Isso mesmo." O homem levantou-se devagar, com certa dificuldade, e foi até o telefone. "Espere aí." Ligou para Tânia, uma gostosa que participava das reuniões mediúnicas e dava bem em cima dele. Em cinco minutos o interfone tocava. "Agora pode ir, tenho visita." Dona Leila, incrédula, assistiu ao momento em que a porta se abriu e aquela ruiva escultural entrou sexy e sorrateira como uma tigresa.
---Seu Armando morreu pouco depois; sofreu infarto fulminante durante o coito. Dizem seus companheiros mediúnicos que foi pra um lugar muito quente, cheio de festas, música alta e gatinhas de biquíni. Nunca na vida ele havia estado em um lugar como aquele. Tenho pra mim que ele não achou ruim, não.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Capa dura, páginas coloridas

Em homenagem ao dia do livro, 29/10 - Essas são algumas de minhas facetas, ditadas por um teste intitulado "Que livro (nacional )você é?" Algumas... de muitas.
---
"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector
Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.
--- COMENTÁRIO: Concordo, sem alternativa contrária. Dói estar em constante pé de guerra consigo mesmo, mas algumas coisas são inevitáveis. Para isso existe essa palavra.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"O vampiro de Curitiba", de Dalton Trevisan
Descolado, objetivo e realista. Nada de meias palavras: a elas, você prefere o silêncio. Você não vê o mundo através de lentes cor-de-rosa, muito pelo contrário. Procura ver o mundo como ele é, entendê-lo, senti-lo. Às vezes, bate até aquele sentimento de exclusão, ou de solidão. Mas é o preço que se paga por ser um pouco "marginal". Não se preocupe, pois você atrai a admiração de pessoas como você: modernas no melhor sentido da palavra. Em "O vampiro de Curitiba" (1965), Nelsinho protagoniza uma variedade de contos, nos quais ele busca satisfazer sua obsessão sexual vagando pelas ruas de Curitiba - paralelamente, esta cidade de contrastes se revela ao leitor. A temática e a forma já denunciam: este não é um livro para qualquer um. Tem que ter cabeça aberta para enfrentar a linguagem nua e crua de Trevisan, que é reverenciado pelo leitor capaz de driblar velhos ranços burgueses.
--- COMENTÁRIO: Pode ser um pouco disso também.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"O alquimista", de Paulo Coelho
Há alguém no seu bairro, na sua empresa ou mesmo na região que não te conheça? Bem, podem não te conhecer pessoalmente, mas já ouviram falar de você com certeza. Popular e carismático, você está para as pessoas ao seu redor o que os best-sellers estão para os leitores: todo mundo conhece, a maioria gosta e/ou admira, mas alguns torcem o nariz devido ao seu excesso de popularidade, ou, é preciso dizer, de superficialidade mesmo. Afinal, essa personalidade que agrada a todos pode ter um quê de falta de personalidade, não é não? Bem, de toda forma, você não se importa com isso. O que importa é compartilhar a sua experiência de vida – mística ou não – e atrair admiradores."O alquimista" (1988) é, possivelmente, a mais conhecida das obras de Paulo Coelho, o mago das vendas em livrarias brasileiras e internacionais. Fenômeno de popularidade, já vendeu quase 38 milhões de cópias em todo o mundo e foi publicado em cerca de 140 países. E, claro, ocupa a cabeceira de muita gente em busca de autoconhecimento e entretenimento esotérico.
--- COMENTÁRIO: Sim, eu me importo com isso. Não, atrair admiradores não é nem meu objetivo, nem meu forte. Digamos que às vezes acontece.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz. "Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.
--- COMENTÁRIO: Lembra, né?
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Doidas e santas", de Martha Medeiros
Moderninha e solteira, ou radiante de véu e grinalda? Eis a questão da jovem (ou nem tão jovem) mulher profissional, cosmopolita e, apesar de tudo, muito romântica. Eis a sua questão! Confesse: quantas horas semanais você gasta conversando sobre encontros e desencontros sentimentais com as suas amigas? Aliás, conversando não. Analisando, destrinchando... Mas isso não quer dizer que você só questione a existência de príncipe encantado, não. A vida adulta hoje não está fácil para ninguém, como bem mostram as 100 crônicas de "Doidas e Santas" (2008), que retratam os sabores e dissabores da vida sentimental e prática nas grandes cidades.
--- COMENTÁRIO: Conversas longas, cabeça a mil - só não vale fritar sobre a vida alheia, mal do qual hei de me curar com injeções espaçadas de Benzetacil. Tem que rezar... Falar menos, menos, menos, até o estágio evolutivo de ouvir, observar e dizer o mínimo sábio necessário.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto
Às vezes você tem uma séria vontade de estapear as pessoas, só para fazê-las acordarem e perceberem as injustiças deste mundo. Como podem viver em seus mundinhos banais, quando há quem passe fome e totalmente à margem de qualquer conforto ou assistência? Esta talvez seja a sua maior revolta. Por isso, você tenta fazer a sua parte. Talvez por meio de um trabalho voluntário, participando de movimentos populares ou somente se exaltando em rodas de amigos menos engajados. De qualquer maneira, você consegue de fato comover pessoas com seu discurso apaixonado e, ao mesmo tempo, baseado numa lógica de compaixão e igualdade que ninguém pode negar.Essa missão é mais do que cumprida pelo belo "Morte e vida severina" (1966), poema dramático escrito pelo pernambucano Melo Neto que se tornou símbolo para uma geração em conflito com as consequências sociais geradas pelo capitalismo selvagem.
--- COMENTÁRIO: Viva Ernesto Guevara! Viva la revolución!

Se quiserem conferir, acessem:

Capa dura, páginas coloridas

Em homenagem ao dia do livro, 29/10 - Essas são algumas de minhas facetas, ditadas por um teste intitulado "Que livro (nacional )você é?" Algumas... de muitas.
---
"A paixão segundo GH", de Clarice Lispector
Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.
--- COMENTÁRIO: Concordo, sem alternativa contrária. Dói estar em constante pé de guerra consigo mesmo, mas algumas coisas são inevitáveis. Para isso existe essa palavra.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"O vampiro de Curitiba", de Dalton Trevisan
Descolado, objetivo e realista. Nada de meias palavras: a elas, você prefere o silêncio. Você não vê o mundo através de lentes cor-de-rosa, muito pelo contrário. Procura ver o mundo como ele é, entendê-lo, senti-lo. Às vezes, bate até aquele sentimento de exclusão, ou de solidão. Mas é o preço que se paga por ser um pouco "marginal". Não se preocupe, pois você atrai a admiração de pessoas como você: modernas no melhor sentido da palavra. Em "O vampiro de Curitiba" (1965), Nelsinho protagoniza uma variedade de contos, nos quais ele busca satisfazer sua obsessão sexual vagando pelas ruas de Curitiba - paralelamente, esta cidade de contrastes se revela ao leitor. A temática e a forma já denunciam: este não é um livro para qualquer um. Tem que ter cabeça aberta para enfrentar a linguagem nua e crua de Trevisan, que é reverenciado pelo leitor capaz de driblar velhos ranços burgueses.
--- COMENTÁRIO: Pode ser um pouco disso também.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"O alquimista", de Paulo Coelho
Há alguém no seu bairro, na sua empresa ou mesmo na região que não te conheça? Bem, podem não te conhecer pessoalmente, mas já ouviram falar de você com certeza. Popular e carismático, você está para as pessoas ao seu redor o que os best-sellers estão para os leitores: todo mundo conhece, a maioria gosta e/ou admira, mas alguns torcem o nariz devido ao seu excesso de popularidade, ou, é preciso dizer, de superficialidade mesmo. Afinal, essa personalidade que agrada a todos pode ter um quê de falta de personalidade, não é não? Bem, de toda forma, você não se importa com isso. O que importa é compartilhar a sua experiência de vida – mística ou não – e atrair admiradores."O alquimista" (1988) é, possivelmente, a mais conhecida das obras de Paulo Coelho, o mago das vendas em livrarias brasileiras e internacionais. Fenômeno de popularidade, já vendeu quase 38 milhões de cópias em todo o mundo e foi publicado em cerca de 140 países. E, claro, ocupa a cabeceira de muita gente em busca de autoconhecimento e entretenimento esotérico.
--- COMENTÁRIO: Sim, eu me importo com isso. Não, atrair admiradores não é nem meu objetivo, nem meu forte. Digamos que às vezes acontece.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Antologia poética", de Carlos Drummond de Andrade
"O primeiro amor passou / O segundo amor passou / O terceiro amor passou / Mas o coração continua". Estes versos tocam você, pois você também observa a vida poeticamente. E não são só os sentimentos que te inspiram. Pequenas experiências do cotidiano – aquela moça que passa correndo com o buquê de flores, o vizinho que cantarola ao buscar o jornal na porta – emocionam você. Seu olhar é doce, mas também perspicaz. "Antologia poética" (1962), de Drummond, um dos nossos grandes poetas, também reúne essas qualidades. Seus poemas são singelos e sagazes ao mesmo tempo, provando que não é preciso ser duro para entender as sutilezas do cotidiano.
--- COMENTÁRIO: Lembra, né?
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"Doidas e santas", de Martha Medeiros
Moderninha e solteira, ou radiante de véu e grinalda? Eis a questão da jovem (ou nem tão jovem) mulher profissional, cosmopolita e, apesar de tudo, muito romântica. Eis a sua questão! Confesse: quantas horas semanais você gasta conversando sobre encontros e desencontros sentimentais com as suas amigas? Aliás, conversando não. Analisando, destrinchando... Mas isso não quer dizer que você só questione a existência de príncipe encantado, não. A vida adulta hoje não está fácil para ninguém, como bem mostram as 100 crônicas de "Doidas e Santas" (2008), que retratam os sabores e dissabores da vida sentimental e prática nas grandes cidades.
--- COMENTÁRIO: Conversas longas, cabeça a mil - só não vale fritar sobre a vida alheia, mal do qual hei de me curar com injeções espaçadas de Benzetacil. Tem que rezar... Falar menos, menos, menos, até o estágio evolutivo de ouvir, observar e dizer o mínimo sábio necessário.
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
"Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto
Às vezes você tem uma séria vontade de estapear as pessoas, só para fazê-las acordarem e perceberem as injustiças deste mundo. Como podem viver em seus mundinhos banais, quando há quem passe fome e totalmente à margem de qualquer conforto ou assistência? Esta talvez seja a sua maior revolta. Por isso, você tenta fazer a sua parte. Talvez por meio de um trabalho voluntário, participando de movimentos populares ou somente se exaltando em rodas de amigos menos engajados. De qualquer maneira, você consegue de fato comover pessoas com seu discurso apaixonado e, ao mesmo tempo, baseado numa lógica de compaixão e igualdade que ninguém pode negar.Essa missão é mais do que cumprida pelo belo "Morte e vida severina" (1966), poema dramático escrito pelo pernambucano Melo Neto que se tornou símbolo para uma geração em conflito com as consequências sociais geradas pelo capitalismo selvagem.
--- COMENTÁRIO: Viva Ernesto Guevara! Viva la revolución!

Se quiserem conferir, acessem:

domingo, 25 de outubro de 2009

Meu time, meu coração

Bom dia, nação alvinegra! Nada como o Galo ganhar pro nosso dia melhorar... Eu que não gosto de barulho me alegro a cada foguete, a cada buzina - tudo bem que algumas são bem exageradas e dá vontade de socar o caboclo... Se isso não é amor, não sei o que pode ser. Obrigada ao nosso artilheiro pelas alegrias desse ano, obrigada ao time pela ótima campanha, e obrigada a meus companheiros atleticanos que lotam as ruas e os campos, que transformam essa cidade num manto preto e branco de felicidade, união, paixão e devoção. Como é bom acordar de manhã e sentir essa onda de alegria no ar... E não importa o que acontecer, meu bom e velho GALO FORTE E VINGADOR, mesmo triste, mesmo furiosa, nunca hei de te abandonar. O céu é o limite, timão! Raça!!!