Para quem não sabe, aplicar passes é muito mais simples do que se imagina. Basta fazer um curso (no centro em que frequento esse curso durou um final de semana somente) e ter boa vontade e disponibilidade para integrar uma das equipes da casa. Pede-se que o passista se prepare no dia do passe e no anterior, evitando a ingestão de bebida alcoólica e também carne vermelha. No dia do passe, é importante que o passista esteja bem disposto e tranquilo, a fim de se doar à tarefa. É uma tarefa bonita, nobre, porque servimos de canal para que a energia divina chegue até as pessoas que adentram a sala em busca de luz. Como integro a equipe que aplica passes nas reuniões de tratamento, tenho a oportunidade de ver muitas figurinhas carimbadas, pessoas que vão semanalmente ao centro, que sentam-se sob uma luz azul e, completamente desarmadas, fecham os olhos e confiam na energia que recebem, emanada de mãos dedicadas e prontas a servir. Seria maravilhoso se esses trabalhadores estivessem sempre tranquilos e preparados. A questão é que somos humanos, e, como tal, passíveis de dias ruins, de fases complicadas, noites mal dormidas, dilemas e questões de todo tipo. Reconhecemos a importância da preparação, da meditação, da sublimação do que anda estranho ou errado, mas a angústia paralisa, o medo afoba. Tem dias em que é o passista quem precisa de um passe longo, poderoso, cheio de luz que não se apaga, calor que não se dissipa - passe que não passa. Compreendemos que nossa existência, única em nome e endereço, não passa de uma passagem; crucial, contudo, é passearmos por ela com mais paciência, repassarmos as páginas borradas a limpo, passarinharmos por nossa bela essência. Nessa luta por mais ciência e mais aprendizado, a humildade pede coração apurado, e a gratidão só é sincera quando atribuímos valor ao nosso passe. Os dissabores passam, como passam também dias de sol. Que possamos sorver com sabedoria cada sopro de vida destinado a passar por nós.
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