É, e eu não me canso, não é mesmo? Talvez por estar tão cansada de tanta coisa ao mesmo tempo. Quanta intensidade, meu Deus! A gente sabe que o cansaço é passageiro, que a própria vida passa rápido e às vezes bate uma vontade de rir e brincar e acreditar que nosso universo particular nos quer bem e em paz... Lembro-me de quando contava estrelas debaixo do céu que era teto da rodoviária velha, deitada sobre os paralelepípedos, olhos brilhantes de cachaça, desfrutando essa embriaguez democrática que me corava as bochechas, amolecia as pernas. Contava estrelas sem pular as pequenas, sem pesar as grandes, sem pensar por um segundo sequer no capítulo que me esperava ao sair daquele transe. Contava era grãos de sorte pelo jardim da noite, lívida ao vê-los se desgarrarem do mural celeste para pousarem ressabiados sobre a minha face, braços e pernas e olhos e peitos fartos de coragem... Em meus pés desenhavam asas, contavam histórias para as palmas das minhas mãos. O que se seguia a esses instantes não mora mais aqui dentro. A sina de ser envolvida pelo perfume das damas da noite que abraçavam a praça, no entanto, volta e meia me sussurra ao pé do ouvido que "valeu a pena" deve ser sempre combustível para os nossos sonhos.
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