Querido, muito querido papai,
O
ano passado não foi nem um pouco fácil pra mim. Nem um pouco. Só agora
estou começando a respirar com mais tranquilidade, mas não menos confusa
em relação a tudo.
É difícil de
explicar, mas parece que pela primeira vez eu consegui gostar de mim
plenamente, pelo que eu sou. Pela primeira vez minhas escolhas e
atitudes não ferem a ninguém - nem a mim mesma. Me entendo, me amo e me
respeito, e gostaria muito de ter alguém do meu lado que sentisse o
mesmo e não tivesse como meta principal me domar ou domesticar. Vejo que
não me enquadro nos padrões sócio-convencionais, mas isso não me faz
menos especial, respeitável ou boa, sabe?
Ontem tirei umas
fotos da gaveta, umas de nós dois quando eu era bem pequena. Já te disse
que você era o meu herói, e posso dizer que ainda é em uma porção de
aspectos. Você é um exemplo de conduta, de honestidade, de compromisso e
dedicação ao trabalho, e vejo em mim muitas coisas suas. O que eu
aprendi nesses 35 anos de caminhada foi que a gente precisa dar sem
pensar em receber - e dar em vida. Não estou sempre disponível nem
sempre feliz, impecavelmente preparada para o dia-a-dia ou no caminho certo,
mas estou aqui e meu coração tem um lugar bem grande que é só seu.
Queria poder te ajudar mais, queria ainda ter condições de te
proporcionar uma casa e uma vida confortáveis - depois de todos esses
anos de trabalho árduo sem o reconhecimento que você buscou, é o mínimo
que você merece. Talvez um dia Deus ache que eu mereça essa
oportunidade. Até lá vou continuar trabalhando bastante e esperando pela
possibilidade de construir uma família bonita, de te dar netos que você
possa curtir muito por muitos anos.
Tenho altos e baixos,
não gosto de telefone, não consigo me expressar bem muitas vezes e
geralmente entendo tudo errado, mas te amo e fiquei feliz de verdade por
você mais uma vez em todos esses anos não ter se esquecido de mim nem
do meu aniversário. Tem um elefantinho aqui que comprei pra você há
muito tempo de presente, pra atrair prosperidade. Te entrego quando
puder.
A fé, o amor incondicional e a capacidade de perdoar
ao invés de julgar são os três pilares nos quais devemos nos apoiar,
pai. Hoje e sempre.
Um beijo da sua filha que se orgulha muito disso,
Érika
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