E lá vem me encher a cabeça a tal diferença entre fazer e realizar. Junto com ela caminha o medo de o mundo se acabar sem aviso e eu não saber se é aqui onde eu deveria estar. Ah, a doce arte de começar... e aos poucos revelar pequenas importâncias, verdades inofensivas a adentrarem brilhantes por sua porta entreaberta. Com um pouco de pudor você vai ver quem é que canta do lado de fora e estende metade do seu corpo em direção à praia deserta. Avisto ao longe conchas de todos os tamanhos e todas as cores sobre a areia branca e com elas visto meus cabelos recém-preparados na maior falta de pressa. Sem lenço ou perfume, o corpo ganha uma nova dimensão na imensidão do universo - de repente somos fortes, e essa grandeza nos enche de coragem. Bravura e clareza nos rondam com calma, aquela calma boa de quem não espera. Quando eu era pequena gostava de contar estrela e escrever novelas semanais sobre meus colegas. Não era por nada, não; só vontade de sonhar de noite e sorrir de dia... de abrir a porta e sentar no sofá e inventar minhas próprias novidades. Meu pai explicava que estrela era coisa de outro planeta; minha mãe dizia que eram almas voluntárias com a tarefa de um dia enfeitarem o céu. Ficava bêbada sempre que olhava pra cima - tonta de tanto achar beleza naquelas luzes que acendiam por vontade própria, só porque brilhar pra elas era tão natural. E depois disso não quis entender mais nada, não - pus o coração na frente e saí por aí cruzando campos coloridos, floridos até nos espinhos. Engraçado pensar assim, mas tenho pra mim que meu peito virou meu escudo. Ainda agora a cabeça volta no tempo e eu me vejo em mais uma escola nova, desenvoltura por conta de outros sorrisos, olhos curiosos a esperarem pelo próximo capítulo da saga que em pouco tempo encheria a sala de redação. Mar de pura poesia soprou sua brisa de alegria tranquila e banhou meu corpo de paz, calor e sorte, sentimento forte que devagar vem plantando estrelas pelos meus dias, suaves como chuva de prata em tardes de verão.
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