Lembro-me de quando você me dizia em sonho que não sabia o que dizer, buscando o frescor de minha alma com o calor do seu olhar, às voltas com pensamentos que te tomavam as mãos, que te tampavam a boca e punham-se à frente dos seus bem aventurados planos; pensares que dobravam o compasso do seu coração. Lembro-me com a ternura que era raiva, brisas tênues a virarem nossas páginas, delírios e realidades a se abraçarem, em conformidade com tudo aquilo que nos espera. Eu corria de braços abertos e te dizia para não se arrepender; trocávamos as pernas enquanto o tempo passava sem se aperceber das horas que morriam para que outras pudessem nascer toda manhã. Minhas rosas se despiram e se vestiram para o mesmo sol por tantas vezes... tempo que vira distância em viveres comuns. Alguns sois depois, sem cerimônia ou belas desculpas, seus pés ainda teimam em caminhar por estradas tortas da vida, a sentir com desconforto coleções de empoeiradas memórias, gritos de Pare, Passe, Espere, Não (se com) prometa. Clichês pulsantes o fazem voltar, ainda que às custas do seu fugaz desassossego; em sonhos você suplica em silêncio que eu o ame, que eu o perdoe, que derrame pela sua solidão pétalas macias e perfumadas de afeto... flores que não me habitam mais. Você o sabe. Primeiro seus olhos se fecham; seus lábios ensaiam um beijo sincero e você logo o guarda entre as mãos. Esquenta-o perto do peito, faz uma prece e lança-o ao vento, à nossa própria sorte, a um mar de soluços e dádivas, dores e aventuranças que vai e vem, vai e vem, sempre a embalar o que há de mais incerto em cada um de nós.
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