Um dia me peguei falando pro meu filho que o mundo não tinha esquina. Não sei exatamente como a discussão começou; só sei que ela terminou assim. Abri os olhos de manhã e fiquei com aquela sensação de que ele tinha mesmo acreditado. Em cada palavra. Engoliu aquele papo como quem engole uma sopa de letrinhas e espera que seu nome se forme lá dentro da barriga. Ele acreditou sem eu ter que provar, mas duvidou do coleguinha quando ele disse Os assassinos de formigas não vão para o céu. Não acreditou quando a professora contou que Deus não escuta quem fala palavrão. Gelou a tia uma semana quando ela insistiu que quem não sabe cozinhar não pode ter filho. Definitivamente ele não queria saber nada daquilo. Promete, mãe? Olhei praquele toco de gente, parado na minha frente com cara de muito sério, e fiquei esperando. Era assim que ele gostava. Promete que amanhã me conta outra coisa importante? Sua mãe é uma assassina de formigas que fala palavrão e passa longe da cozinha, meu filho; sai dessa, pensei comigo. Ele sabia, mas não acreditava de jeito nenhum. Sua mãe é uma assassina de formigas que fala palavrão e passa longe da cozinha, meu filho. Não acredita no que as pessoas falam, não, mãe. Por exemplo, eu só acredito em você. Então se prepara, porque amanhã vou te contar sobre a única esquina do mundo, onde só cabem nós dois, bem espremidos. Ele esperou de coração aberto; eu rezei ao pé da cama e pedi por mais uma boa história.
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