Adoro levar o carro para uma ducha. É como se ele fosse um bichinho que precisa tomar banho. Encontro um horário dentro do meu dia corrido e entro na fila. Fico sempre dentro do carro - é aí que mora toda a graça. Lá de dentro, vejo a chuva caindo e fecho os olhos. Imagino uma catarata enorme e seu barulho que chega bem perto, água que cai mas não molha nunca. Ouço uma música e deixo meu corpo moldar-se gradualmente à poltrona. De repente sinto uma bruma macia a envolver-me por inteiro. Pelas janelas, um mar branco de espuma. Imagino uma banheira quentinha, sinto as cores e os cheiros de um banho de nuvens. Espreguiço da cabeça aos pés, como um gato mergulhado em leite fresco. Me perco de tudo. A chuva cai e limpo meus pensamentos; me compreendo: me melhoro. Prezo cada um desses deliciosos minutos de passeio no céu - eles me dão a nítida impressão de que o amor há de vencer; meus poros em flor sussurram que nunca é tarde demais. Peregrino pelo mundo real no meio de um dia comum, e sinto que ainda tenho muito tempo...
Daydreamer...
Daydreamer...
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