Não sei exatamente por que perco-me de mim mesma a cada passo. Ando para a frente e me esqueço de quase tudo que ficou pra trás. Leio um livro do qual eu participo, ao qual eu me entrego, e dois meses depois consigo apenas dizer se ele foi bom ou ruim. Minha cabeça não para de pensar - pensa, pensa, mas pouco retém. Mesmo quando estou quieta, procuro lembranças que não me vêm, até o momento em que não sei dizer se elas existiram de fato. E sinto um gosto amargo de discórdia descendo pela garganta, provindo da vil necessidade do outro para banhar-me em anedotas pérfidas, para reconstruir à sua maneira meu passado incompleto e por tantas vezes desconhecido. Algo como perder o direito a colecionar as próprias memórias, e esperar que todos os dias alguém alimente sua carcaça impotente, ilumine seu olhar confuso e te embale ao som de uma canção que você tem certeza que nunca ouviu.
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